Poltrona vazia
A Poltrona dos Antepassados
Contaram-nos que em casa de um escritor-poeta de grande renome, há um costume que parecerá bizarro a quem quer que não seja espírita. À mesa da família há sempre uma poltrona vazia; essa poltrona é fechada por um cadeado e ninguém nela se assenta: é o lugar dos antepassados, dos avós e dos amigos que
deixaram este mundo; lá está como respeitoso testemunho de afeição, uma piedosa lembrança, um apelo à sua presença, e para lhes dizer que vivem sempre no espírito dos sobreviventes.

A pessoa que nos relatou o fato, como vindo de boa fonte, acrescentou: “Os espíritas repelem, e com razão, as coisas puramente formais; mas se há uma que possam adotar sem derrogar seus princípios, sem dúvida é esta.” Seguramente, eis um pensamento que jamais brotaria no cérebro de um materialista; não só ele atesta a idéia espiritualista, mas é eminentemente espírita e não nos surpreende absolutamente da parte de um homem que, sem arvorar abertamente a bandeira do Espiritismo, muitas vezes afirmou sua crença nas verdades fundamentais que dele decorrem.

Há nesse uso algo de tocante, de patriarcal e que impõe respeito. Com efeito, quem ousaria ridicularizá-lo? Não é uma dessas fórmulas estéreis, que nada dizem à alma: é a expressão de um sentimento que parte do coração, o sinal sensível do laço que une os presentes aos ausentes. Essa cadeira, aparentemente vazia, mas que o pensamento ocupa, é toda uma profissão de fé, e mais, todo um ensinamento, tanto para os grandes, quanto para os pequenos. Para as crianças, é uma eloqüente lição, embora muda, que não pode deixar de produzir salutares impressões. Os que forem educados nessas idéias jamais serão incrédulos, porque, mais tarde, a razão virá confirmar as crenças com que terão sido embaladas. A idéia da presença, em torno deles, de seus avós ou de pessoas veneradas, será para eles um freio mais poderoso que o medo do diabo.
R.E. , setembro de 1868, p. 369